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sexta-feira, 29 de abril de 2011

A IMPORTÂNCIA DA AFETIVIDADE PARA O PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM

A IMPORTÂNCIA DA AFETIVIDADE PARA O PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM

I- DESENVOLVIMENTO HUMANO: UMA QUESTÃO PSICOPEDAGÓGICAO estudo da psicologia aplicada na educação tem sido intensa nos últimos anos sob
a luz de alguns teóricos, dentre eles Piaget, Vygotsky e Wallon que serão aqui abordados separadamente. A escola é o segundo grupo da escala social mais importante na vida das crianças. Hoje, boa parte delas, ingressam nas instituições aos quatro meses de idade.
De acordo com De Paula e Mendonça (2007), para o professor é de fundamental importância a compreensão do desenvolvimento humano nos primeiros anos de vida. Esse conhecimento capacita o educador, tornando-o apto a entender as características psíquicas, biológicas e comportamentais da criança em uma fase específica do seu crescimento, possibilitando o reconhecimento de possíveis deficiências no processo, bem como a devida intervenção.
Durante muitos anos, a dificuldade de aprendizagem era vista como problema orgânico. Depois da aplicação de teorias psicanalíticas na área médica essa visão foi modificada com as novas concepções sobre tais dificuldades. Surge o movimento da Escola Nova que durou dos anos 20 até 60. Por meio de experiências educativas existentes nos Estados Unidos e na Europa, o Brasil se empenhou em encontrar respostas para os problemas educacionais que buscava enfatizar uma pedagogia humanística.
Segundo Gouvêa (2005) só a partir da década de 80 a psicopedagogia conseguiu se estruturar graças a sua funcionalidade e eficiência ao tratar com dificuldades de aprendizagem, atuando de forma direta nas escolas de todo o mundo.
O processo de ensino-aprendizagem vai além dos conteúdos didáticos. É necessário conhecer e acompanhar individualmente o desenvolvimento de cada criança durante o período escolar para que seja proporcionada a cada estudante uma metodologia que facilite seu desenvolvimento afetivo, cognitivo e motor.
II- PIAGET E OS ESTÁGIOS DE DESENVOLVIMENTO HUMANO

Piaget desenvolveu estudos científicos em diversos campos como a psicologia do desenvolvimento, epistemologia genética e a teoria cognitiva.
O indivíduo tende a um equilíbrio, que está relacionado a um comportamento adaptativo em relação à natureza, que por sua vez sugere um sujeito de características biológicas inegáveis, as quais são fonte de construção da inteligência. O desenvolvimento e caracterizado por um processo de sucessivas equilibrações. O desenvolvimento psíquico começa quando nascemos e segue até a maturidade, sendo comparável ao crescimento orgânico: com este, orienta-se, essencialmente, para o equilíbrio (PIAGET, 1974, p.13).
Esse desenvolvimento apesar de contínuo é caracterizado por determinadas formas de pensar e agir em diferentes idades, formas que o autor denominou estágios e refletem os diferentes modos de a criança pensar ao longo de sua vida. Segundo Piaget, o desenvolvimento passa por quatro diferentes estágios:
O sensório-motor (0 a 2 anos aproximadamente), a criança procura observar os objetos que a rodeia e passa a ter controle motor, adquirindo conhecimentos empíricos que são controlados por informações sensoriais imediatas. A principal característica desse período é a ausência da função semiótica. A inteligência é trabalhada por meio de percepções e ações, como o deslocamento do próprio corpo. A linguagem começa por repetição de sílabas e vai até às palavras que não são frases, mas indicadores de ações já que não representa mentalmente os objetos. A criança nessa fase reage a isolamento e indiferença quanto a sua conduta social, pois acredita que o mundo é apenas ela mesma.
O pré-operatório (2 a 7 anos aproximadamente), a criança procura desenvolver a habilidade verbal. Aqui, ela já consegue nomear objetos e raciocinar intuitivamente, embora ainda não consiga coordenar operações fundamentais. De dois a quatro anos a criança vive o período simbólico, ou seja, a função semiótica permite o surgimento da imitação, linguagem, dramatização, desenho, etc., criando imagens mentais na ausência do objeto ou da ação. É conhecido também como o período da fantasia e do jogo simbólico. A linguagem está no nível de monólogo. Todas as crianças falam ao mesmo tempo sem ter uma linearidade com o que o outro está dizendo. Piaget denomina algumas expressões verbais delas como nominalismo (nomear objetos que ainda não saibam o nome), egocentrismo e superdeterminação (teimosia). Dos quatro a oito anos as crianças vivem o período intuitivo que é marcado pelo desejo de explicação dos fenômenos, onde “os por quês” são freqüentes. Aqui elas já distinguem a fantasia do real.
O estágio operatório concreto (7 a 11 anos aproximadamente), as crianças começam a lidar com conceitos abstratos e é caracterizado por uma constante habilidade de solucionar problemas concretos e por uma lógica interna. O sujeito já é capaz de organizar o mundo da forma lógica ou operatória. Nesse momento as crianças formam grupos, círculos de amizades, compreendendo regras e estabelecem compromissos. Mas, discutir pontos de vista e chegar a um senso comum só será possível na fase seguinte.
O operatório formal (aproximadamente a partir dos 12 anos), a criança inicia sua transição para o modo de pensar do adulto, sendo capaz de refletir sobre idéias abstratas e raciocinar sistematicamente. A partir de estruturas lógico-matemático e hipotético-dedutivo é possível a dialética, permitindo uma conclusão diante de uma discussão e estabelecer relações cooperativas e reciprocidade em grupos sociais.
De acordo com a teoria de Jean Piaget, o desenvolvimento intelectual possui dois componentes que são o cognitivo e o afetivo. Ambos se dão paralelamente e é de fundamental importância o cuidado com o aspecto afetivo no processo de ensino-aprendizagem, pois ela é a dimensão que representa a dificuldade na tomada de consciência do eu e do outro.
III- O DESENVOLVIMENTO HUMANO SOB A LUZ DE VYGOTSKY

A teoria de Vygotsky fundamenta-se no desenvolvimento humano como resultado de um processo sócio-histórico, uma maior importância ao papel da linguagem e da aprendizagem, tendo como centro das atenções a aquisição de conhecimentos pela interação do sujeito com o meio. Para Vygotsky (1988),
“a formação de conceitos se da através das relações entre o pensamento e a linguagem, questões culturais na construção de significados, processo de internalização e ao papel da escola enquanto transmissora de conhecimentos.”
Ele propõe uma visão de formação das funções psíquicas superiores tais como a internalização mediada pela cultura.
Segundo Vygotsky, existe a Zona de Desenvolvimento Proximal, que diz respeito a distancia entre o nível de desenvolvimento atual e o nível potencial do desenvolvimento. A idéia de Mediação enfatiza a construção do conhecimento como uma interação mediada por varias relações. A linguagem representa uma grande importância para a evolução humana. É por meio dela que criamos conceitos, formas de organização do real, a mediação entre sujeito e o objeto do conhecimento. Na Cultura que é fornecido ao ser humano os sistemas simbólicos de representação da realidade, que estão em constante progresso de recriação e reinterpretarão de informações, conceitos e significações.
Para o funcionamento do psicológico, o desenvolvimento do processo de internalização que envolve uma atividade externa que deve ser modificada para se tornar uma atividade interna, é interpessoal e se torna intrapessoal. A interação social se dá no pensamento, memória, percepção e atenção. A motivação, a necessidade, impulso, emoção e afeto, parte através do pensamento. Outra importância da relação ensino- aprendizagem no aspecto emocional se dá através do que Vygotsky classifica como influência da educação no sentimento.     
“Se quisermos que os alunos recordem melhor ou exercitem mais o pensamento, devemos fazer com que as atividades sejam emocionalmente estimuladas. A experiência e a pesquisa têm mostrado que um fato impregnado de emoção é recordado mais sólido, firme e prolongado que um feito indiferente. Cada vez que comunicarem algo ao aluno tente afetar seu sentimento. A emoção não é uma ferramenta menos importante que o pensamento” (Vygotsky)
Assim, se para Vygotsky a emoção e o sentimento são fatores determinantes no desenvolvimento cognitivo, podemos concluir que a escola é onde a intervenção pedagógica interacional desencadeia o processo ensino-aprendizagem.
IV- WALLON E OS ASPÉCTOS AFETITIVOS

Henri Wallon num primeiro momento dedicou-se à psicopatologia e depois ao desenvolvimento da criança, tendo a consciência como fundamental questão, buscando entende-la pela sua gênese. Sua teoria aponta para dois fatores que constitui condições para cada estágio que são os fatores orgânicos e sociais. Essas características se dão em cada estagio em determinada cultura e época. Wallon (2000) aponta cinco estágios de desenvolvimento que são o impulsivo emocional, sensório motor e projetivo, personalismo, categorial e puberdade e adolescência.
O estágio impulsivo emocional (0 a 1 ano), se divide em duas fases. A primeira é chamada de impulsiva que começa no momento do nascimento e dura até o 3º mês de vida, onde a exploração do próprio corpo em relação as suas sensibilidades externas e internas são explorados por meio de movimentos bruscos e desordenados que expressam bem ou mal estar. Na segunda fase que vai do 3º mês ao 1º ano é chamado de emocional, onde já reconhece sensações como o medo e a alegria, ou seja, é capaz de se comunicar com o próprio corpo.
O estágio sensório- motor e projetivo (1 a 3 anos), a criança já percebe o espaço físico ao sentar, pegar e apontar, acompanhados pela fala. Ela já descrimina objetos, separando-os entre si e isso a prepara para o afetivo e cognitivo no próximo estágio.
No estágio do personalismo (3 a 6 anos), é marcado exploração de si mesmo como alguém diferente do outro, construindo sua subjetividade por meio de atividades de oposição e ao mesmo tempo sedução a outras pessoas.
O estágio categorial (6 a 11 anos), nesse momento a criança está em condições de exploração mental do mundo físico por meio de classificação, agrupamento, seriação, abstração e chega ao pensamento categorial que é a organização do mundo físico e compreensão mais nítida de si mesmo.
O estágio da puberdade e adolescência (11 anos em diante), o sujeito se prepara para a vida adulta passando por crises de exploração de si mesmo como uma identidade autônoma, auto-afirmação, questionamentos existenciais e ao mesmo tempo submete-se a valores impostos pela sociedade e pela família embora não compreenda ou aceite. As categorias cognitivas aqui possuem um alto nível de abstração que possibilita discriminação de limites, autonomia e dependência. Mudanças no corpo e na personalidade causam conflitos diante de si mesmo.
Em todas as fases, os aspectos motor, afetivo e cognitivo reagem a estímulos internos e externos, traduzindo a passagem do sincretismo para a diferenciação que está presente no processo de desenvolvimento. O afetivo se origina na intercepção e propriação que são responsáveis pela atividade generalizada do organismo.

V-A ESCOLA E A PERSPECTIVA PSICOPEDAGÓGICA

Na perspectiva psicopedagógica, os autores: Piaget, Vygotsky e Wallon contribuem com suas teorias de forma significativa e eficaz para a compreensão do desenvolvimento humano no processo de ensino-aprendizagem nas séries iniciais.
Jean Piaget, oferece aos professores uma teoria didática para que possam desenvolver as capacidades e habilidades cognitivas e afetivas nos alunos por meio de estímulos. É de suma importância a definição dos períodos de desenvolvimento da inteligência para que auxilie o professor no entendimento da fase que seus alunos estão passando e montar uma didática específica para o grupo.
Baseado na teoria de Vygotsky, o professor é o mediador entre o sujeito e o objeto de estudo, interferindo no processo de aprendizagem, levando em conta aspectos da linguagem, cultura, processo de internalização, função mental e zona de desenvolvimento proximal. O aluno aprende junto ao outro o que produz o grupo social seja na linguagem, valores ou conhecimentos.
Wallon propõe uma teoria pedagógica tendo o “meio” como um conjunto de circunstâncias no qual as pessoas se desenvolvem interagindo com o outro.
IV – CONSIDERAÇÕES FINAIS
O amor é um conceito diverso, repleto de contrastes, antíteses, paradoxos e peculiaridades que o tornam tão singular quanto complexo. (...) amor transcende qualquer ciência. Ele nasce, cresce e se multiplica, ocupando espaços maiores ou menores, mas sempre edificados com o que há de mais nobre no espírito e no coração do ser humano (CHALITA, 2003 P.22)”
Dessa maneira, o artigo aqui apresentado sugere que o professor compreenda as teorias do desenvolvimento humano e tenha atitude de investigador do aluno e da sua prática por meio de pesquisas na área psicopedagógica. O estudo acerca da relação entre afetividade e sua influência no processo de desenvolvimento da aprendizagem da criança com base nas teorias leva a algumas considerações. A primeira delas é o fato de que afetividade e inteligência constituem um conjunto inseparável na evolução do psiquismo da criança, pois ambas têm funções bastante definidas e quando se integram, permitem à criança alcançar níveis de pensamento cada vez mais elevados e a constituição da sua pessoa, que expressa a sua forma de ser única no mundo. Na escola, um bom ajustamento afetivo se torna condição necessária ao pleno desenvolvimento do aluno. Foram evidentes durante os estágios II e III, que as Regras de Boa Convivência e o Jogo de Xadrez foram instrumentos importantes, trabalhando tanto o aspecto afetivo quanto o cognitivo, que são indissociáveis na conduta humana. Nesse caso, o professor desempenha o papel de mediador no processo educativo, isso significa que a ação do professor precisa ser pautada no conhecimento acerca do desenvolvimento psicológico da criança e, consequentemente, das suas necessidades.
Acredito que dessa forma, o professor terá condições de tomar as decisões comprometidas com o desenvolvimento de habilidades e potencialidades, que façam desse aluno uma pessoa mais feliz e plenamente realizada em suas aprendizagens.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CHALITA, G; Pedagogia do Amor: a contribuição das histórias universais para a formação de valores das novas gerações – São Paulo: 19ª Ed. - Editora Gente, 2003. 208 p.
PAULA, E M A T. de; MENDONÇA, F W. / Psicologia do Desenvolvimento./- Curitiba: IESDE Brasil S.A. 160 p.
SÁ, M S M; VALLE, B de B R do; DELOU, C M C; et al./        Introdução à Psicopedagogia. / 2ª Ed – Curitiba: IESDE Brasil S.A., 2008. 140 p.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Tópicos sobre sexualidade

Tópicos sobre sexualidade

Desenvolvimento sexual

Educação sexual

Orientações sexuais

Identidade sexual

Órgãos sexuais

Fisiologia reprodutiva

Doenças sexualmente transmissíveis (DST)

 Comportamento sexual

Aspectos sócio-culturais

Crimes sexuais

SEXUALIDADE

A sexualidade de um indivíduo define-se como sendo as suas preferências, predisposições ou experiências sexuais, na experimentação e descoberta da sua identidade e actividade sexual, num determinado período da sua existência.
Atualmente, ocorre por parte de alguns estudiosos a tentativa de afastamento do conceito de sexualidade da noção de reprodução animal associada ao sexo. Enquanto que esta noção se prende com o nível físico do homem enquanto animal, a sexualidade tenderia a se referir ao plano psicológico do indivíduo. Além dos fatores biológicos (anatômicos, fisiológicos, etc.), a sexualidade de um indivíduo pode ser fortemente afectada pelo ambiente sócio-cultural e religioso em que este se insere. Por exemplo, em algumas sociedades, na sua maioria orientais, promove-se a poligamia ou bigamia, i.e., a possibilidade ou dever de ter múltiplos parceiros.
Em algumas partes do mundo a sexualidade explícita ainda é considerada como uma ameaça aos valores político-sociais ou religiosos.

A Importância da Higiene como Melhoria na Qualidade de Vida das Crianças

A Importância da Higiene como Melhoria na Qualidade de Vida das Crianças

As mudanças dos hábitos de higiene durante todo o processo evolutivo da humanidade são um dos fatores mais significativos para que o homem de hoje tenha uma maior longevidade. Com essas mudanças, ele adquiriu aprendizagem com relação aos padrões nutritivos de sua alimentação e a cuidar melhor da higiene de seu próprio corpo. Por isso, várias doenças causadas pela ingestão de alimentos contaminados e a falta de higiene pessoal diminuíram sensivelmente, levando-o a melhorar a sua qualidade de vida.

A influência que as condições de saneamento básico tem sobre a saúde da população é notória. Em relação às crianças, essas condições estão diretamente ligadas aos índices de mortalidade e morbidade infantil. E como a questão de saneamento está associada à renda da população, o Brasil é um dos campeões mundiais de parasitoses e verminoses, e as maiores vítimas são as crianças.

A higiene dos filhos é uma tarefa dos pais, e só aos 6 anos é que a criança está madura para cuidar de sua própria higiene pessoal, e os pais não devem passar a responsabilidade antes que elas estejam preparadas. Para que a criança seja bem educada em higienização e desenvolva bons hábitos é necessário que ela receba informações e exemplos.

Higiene e o Recém-Nascido

Os cuidados com o recém-nascido começam no próprio útero materno. Segundo a pediatra Francisca Fernandes de Freitas, a mãe é o primeiro ambiente para o desenvolvimento do filho, pois todos os problemas maternos (doenças infecciosas, metabólicas, nutricionais, traumáticas) podem determinar agravos ao bebê. A mãe deve ter uma alimentação balanceada, não fazer uso de bebidas alcoólicas, cigarros e outras drogas.

Ela ressalta que o leite materno é o mais prático e natural alimento para o recém-nascido, pois contém todos os nutrientes necessários a defesa contra várias infecções. Além de ser a fonte mais importante de energia e proteína, o leite materno ajuda as crianças a se protegerem de doenças e terem um desenvolvimento melhor, tanto no aspecto físico como emocional.

Já o uso das mamadeiras nos primeiros dias de vida, é totalmente desaconselhável pela maioria dos pediatras, a não ser em casos excepcionais, quando a mãe não pode amamentar. De acordo com alguns especialistas a utilização da mamadeira pode até causar doenças, se não estiver devidamente limpa, além de prejudicar o desenvolvimento afetivo do bebê.

Cordão Umbilical - um elo

Uma das maiores preocupações após o nascimento do bebê é com a cicatrização do umbigo. Segundo dados estatísticos, há ainda um alto índice de mortalidade infantil ligados os chamados "mal-dos-sete-dias" , uma infecção causada por bactérias que penetram pelo cordão umbilical ainda não cicatrizado, provocando tétano. Por isso, o umbigo só deve ser cortado quando deixa de pulsar e não imediatamente após o parto. O coto deve ser imediatamente desinfectado somente com álcool absoluto, envolvido com gaze. Ao dar o primeiro banho deve-se evitar que a água molhe o cordão umbilical.

A necessidade de um programa de Imunização

Nos primeiros dias de vida, o bebê tem alguma imunidade contra doenças, pelos anticorpos que recebeu da mãe e também durante a amamentação no seio. Mas, a partir de um ano de idade, essa defesa vai ficando cada vez mais fraca. A partir do primeiro mês, o recém-nascido já deve receber a primeira dose de vacina que é a BCG, para protegê-lo contra a tuberculose. As vacinas impedem doenças comuns e graves como a tuberculose, paralisia infantil, difteria, coqueluche, tétano e sarampo.

Saúde Bucal - a garantia de um belo sorriso

A higiene da boca do recém-nascido deve começar logo que surge o primeiro dente. Mesmo que a água utilizada seja fluoretada, alguns pediatras recomendam flúor em gotas. A primeira dentição só vai se completar por volta dos dois anos e a partir daí, a escovação noturna principalmente, deve ser um hábito. Ela é fundamental porque à noite não produzimos saliva e os dentes ficam desprotegidos, sendo atacados pelo ácido e bactérias.

Recomendações básicas para a higiene infantil

- Lave muito bem as mamadeiras, tanto o bico e seu protetor. Passe detergente biodegradável por dentro e por fora. Use uma escova própria para limpá-las, dando bastante atenção às bordas e cantos.

- A cada troca de fraldas, faça a limpeza com algodão embebido em água morna. Pelo menos uma vez por semana ferva as fraldas e sempre que possível, deixe que elas sequem ao sol, que também ajuda a eliminar as bactérias.

- Deve-se evitar o uso prolongado de calças plásticas e enxutas.

- Para evitar o surgimento de assaduras, não use sabão em pó ou amaciante nas fraldas.

- Usar água filtrada ou fervida.

- Mantenha os utensílios domésticos bem limpos.

- Lavar bem os alimentos e frutas cruas.

- Lavar as mãos antes das refeições e após usar o banheiro.

- Manter as crianças bem calçadas, a não ser que estejam em lugares limpos.

- Evitar que as crianças brinquem a beira de córregos e águas contaminadas.

- Manter as unhas cortadas e limpas.

- Como repassar os hábitos da higiene.

Assim como pular corda, brincar de esconde-esconde e ciranda são brincadeiras que normalmente são estimuladas pelos adultos. O mesmo acontece com os princípios básicos de higiene. A conduta do adulto também é imitada pela criança. Normalmente ela crescerá saudável, quando puder imitar os seus pais e os educadores que de alguma forma ajudam estabelecer estes valores para essa criança. Uma conduta que é natural do ser humano, que compreende de respeito, amor, paciência, carinho, etc.

Dessa forma cabe aos pais passar para os seus filhos estes hábitos e, conseqüentemente, procurar escolas ou centros educacionais que mantenha também estes mesmos esforços, pois o desenvolvimento de uma criança passa com certeza também pela escola que é responsável pela continuidade de sua educação, na qual está inserido o desenvolvimento intelectual, social e emocional. Pontos fundamentais para que se estabeleça a continuidade desses princípios básicos de higiene para uma vida mais saudável.

habitos de higiene

Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – Campus Santo
Ângelo/RS
Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – Campus Santo Ângelo/RS
26 a 29 de abril de 2006
“HÁBITOS DE HIGIENE: É CEDO QUE SE COMEÇA”
Karem Susan Hansen
URI / Santo Ângelo - karemhansen@yahoo.com.br
Marilisa B Hoffmann
URI / Santo Ângelo - mhoffbio@yahoo.com.br
Tatiele L Rodrigues
URI / Santo Ângelo - trodbio@urisan.tche.br
Maria Lorete Thomas Flores
URI / Santo Ângelo - lorete@urisan.tche.br
Introdução
A Educação e a saúde são dois pilares de sobrevivência humana que estão em eterna construção e desconstrução. Os autores assumem um compromisso ético de que é possível promover saúde escolar através da articulação entre os setores da educação e saúde; através da interdisciplinaridade; envolvimento dos grupos de alunos; famílias; educadores, num contínuo processo crítico avaliativo dos saberes e práticas de saúde escolar (FERRIANI, 1997).
Segundo Souza (2000), o objetivo da saúde escolar é atender a integralidade da criança. Em vez de considerarmos a criança com queixa escolar doente ou diferente, devemos vê-la de maneira a ser entendida no seu ambiente social mais amplo, na família, na escola, no seu grupo de amigos.
A escola, dentro de uma perspectiva educativa que se integra a outros setores na busca de transformação social, pode ser uma aliada da saúde e vice-versa. Essas alianças podem ser estabelecidas para o complexo empreendimento de fazer com que crianças e adolescentes se transformem em sujeitos de sua saúde, deixando de ser sujeitos de sua doença.
Após assinalar a importância da saúde escolar, resta-nos defender a promoção de conhecimentos e práticas de saúde que possam se aliar à escola e outras instituições, na busca de transformações sociais.
A educação não formal vem se manifestando como uma das formas mais exitosas de socialização e capacitação pessoal encontradas atualmente. Mais do que provado, a educação não se restringe apenas aos bancos escolares convencionais, e ocupa um espaço cada vez mais concorrido, visto a abertura que um meio como este proporciona a novas e significativas aprendizagens, assim como um espaço de troca de experiências e valorização de opiniões. Um exemplo de educação não formal, muito comum em nossa realidade é a creche, onde as crianças freqüentam desde a mais tenra idade. Neste local, elas vivem momentos de socialização, através do contato com os colegas, dos horários, da partilha do brinquedo. Sendo assim, além de compartilhar experiências também são educados, mesmo que não formalmente. Em vista da importância dos bons hábitos de higiene para a vida do ser humano, é essencial que esta consciência seja desenvolvida ainda na infância. É nesta fase que as informações são melhores assimiladas e acomodadas, certamente pela abertura e desprendimento das crianças em se defrontar com o novo e aceitar desafios sem receio algum. Problemas com piolho, muito comuns em crianças que convivem em ambientes públicos, podem ser diminuídos sensivelmente a partir de um trabalho de conscientização com crianças que, conseqüentemente, atingirá os pais e a comunidade em geral. Quanto melhor forem esclarecidas as crianças,
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Ângelo/RS
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26 a 29 de abril de 2006
mais chances elas terão de formarem seu ego e ajudar a criar um ambiente mais humano (PUCCI, 1999).
Objetivo
Com o objetivo de estimular os bons hábitos de higiene, visando melhorar a qualidade de vida das crianças, conscientizá-las e incentivá-as sobre os hábitos de higiene pessoal, fez-se presente este trabalho em forma de oficina, na qual foi aplicada na Creche Tico-Tico, na cidade de São Luiz Gonzaga.
Metodologia
Primeiramente, realizou-se apresentação do teatro de fantoches “Amigos da Higiene”, com os seguintes personagens: sabonete, chuveiro, escova dental, pente, pasta dental, xampu e papel higiênico, e com o texto a seguir:
SABONETE: Olá Amiguinhos! Tudo bom? Vim aqui com minha turminha para conversarmos um pouco sobre hábitos de higiene. Vocês sabem o que é higiene? Vou chamar meu amiguinho chuveiro para explicar.
CHUVEIRO: Oi! Que pessoal bonito! Bem, higiene é cuidar bem do corpo, tomar banho, escovar os dentes, cortar as unhas...
ESCOVA DENTAL: “Péra” aí! Opa! Olá pessoal... Eu sou muito importante, vocês sabem para que eu sirvo? Sou importante para escovar os dentinhos todos os dias, com minha amiga pasta.
PASTA DENTAL: É!!! Eu sirvo para deixar os dentes bem limpinhos e sou muito importante para não deixar o bichinho da cárie entrar nos dentinhos!!
ESCOVA: É isso ai!! Juntos, nós tiramos toda a sujeira dos dentes! E tem mais, amiguinhos: devemos ser usadas sempre por vocês, após comerem algum lanche e antes de dormir!
PENTE: Oi!! E eu, sou quem?? Sabem pra que sou usado? Sou usado para manter um visual bonito, o cabelinho penteado e arrumadinho... Todo mundo me usa aqui??
SHAMPOO: É. O pente é muito importante mesmo!! Nós dois trabalhamos juntos para deixar o cabelo bonito e livre dos piolhos!!!
PENTE: E para o cabelo ficar sempre limpinho, devemos lavá-lo muito bem e no mínimo 3 x por semana amiguinhos!!
PAPEL HIGIÊNICO: Ei! Não esqueçam de mim!!!! Sou o papel higiênico e devo ser usado quando se vai no banheiro!
TODOS: Nós formamos a equipe da limpeza!!!! Junto com vocês, vamos acabar com a sujeira!!
SABONETE: E não esqueçam!
TODOS: Cuidar do nosso corpo é muito importante!!!! Tchau!!!!
Posteriormente, foram questionados quais são os hábitos de higiene que devemos ter, com a participação do “Sr. Piolhão”. Houve então a realização de brincadeiras com as crianças, como imitações de cartazes com desenhos relacionados à higiene corporal, canto de paródias relacionadas aos hábitos de higiene, com as músicas: “Lavar as mãos” (Atirei o pau no gato); “Lixo na lixeira” (Marcha Soldado); “Meus dentinhos”(Ciranda). Após as brincadeiras, as crianças pintaram os personagens do teatrinho.
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26 a 29 de abril de 2006
Resultados e Discussões
A Prática de Ensino de Ciências nos tem proporcionado ricos momentos de aprendizagem e de interação com a realidade da educação. Esta prática, em especial, nos permitiu conhecer um pouco mais do cotidiano e da organização de grupos não-formais de educação. Com o desenvolvimento desta prática, pôde-se mudar a impressão que se tinha em relação às creches, como um mero depositário de crianças, onde muitos comentam que crianças são maltratadas e que são fisicamente mal-equipadas. Em relação às atividades, as crianças ficaram encantadas, participaram ativamente, sendo que o “Sr. Piolhão” foi o personagem mais citado por estas após a apresentação. Além do mais, os conceitos sobre higiene discutidos no teatrinho foram muito argumentados pelas crianças. Isto prova que já existe um trabalho desenvolvido sobre o assunto, tanto em casa como na creche.
Constatamos, através desta experiência, um outro ângulo da sociedade, onde a socialização é proporcionada aos indivíduos que a compõe, de maneira que estes se sintam valorizados enquanto seres capazes e produtivos.
Sendo a educação científica necessária para resolver assuntos do cotidiano, conclui-se que, também nestas instituições populares a ciência pode e deve se fazer presente, como forma de relacionar fatos do dia-a-dia com informações obtidas a todo instante pelos mais diversos meios de comunicação.
É preciso valorizar a educação em ciências, como prática social, entendendo a saúde como resultado de condições econômicas, políticas e culturais. Portanto, a partir destas questões abordadas, é evidente o papel impar do educador na conscientização da sociedade. É imprescindível que os profissionais de todas as áreas do saber contribuam para a construção da cidadania.
A educação sanitária e hábitos de higiene são assuntos que devem ser familiares ao ser humano desde a mais tenra idade. Baseadas nisso, é que realizou-se esta prática, com crianças de creche, oportunizando-lhes momentos de diversão, reflexão e conhecimento sobre estes temas.
Conclui-se assim, que estes meios de educação comunitária apresentam-se cada vez mais solidificados e embasados em valores morais e fins bem definidos, o que eleva sua capacidade de transformação na realidade em que estão inseridos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
FERRIANI, Maria das Graças C.; GOME, Romeu. Saúde Escolar – Contradições e Desafios. Goiânia-GO: AB Editora, 1997.
PUCCI, Bruno, et al. Adorno: o Poder Educativo do Pensamento Crítico. Petrópolis, RJ: Vozes, 1999.
SOUZA, Beatriz de Paula; MORAIS, Maria de Lima Salem. Saúde e Educação: Muito Prazer! – Novos Reinos no Atendimento à Queixa Escolar. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2000.

sábado, 9 de abril de 2011

Educação em Direitos Humanos: fundamentos teórico-metodológicos

Educação em Direitos Humanos: fundamentos teórico-metodológicos
3 - Educação popular em direitos humanos
José Francisco de Melo Neto
Introdução
A Declaração Universal dos Direitos Humanos, 1948, tem incentivado a promoção de vários sistemas desses direitos, seja em nível de países, em regiões e no local onde as pessoas vivem. Isso tem impulsionado um conjunto de fatores, destacado no Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos (2006), como a promoção de interesses das pessoas para conteúdos globais; a institucionalização de padrões de valoração, sanção e pressão, além de mecanismos de avaliação dessas políticas; a definição de princípios que objetivem a força e o poder de setores sociais historicamente vulneráveis como mulheres, negros, idosos, povos indígenas, grupos raciais e étnicos... entre outros; a organização de redes para reivindicações transnacionais e ações coletivas em defesa dos direitos humanos, alertando todo mundo sobre aqueles grupos ou corporações que os violam.
Muito distante, todavia, estão esses direitos a serem conquistados. Longe está o respeito às pessoas, às suas diferenciadas nacionalidades, gênero e suas orientações sexuais e religiosas. Direitos estes que vêm acompanhados da ausência de outros tipos de direitos como o de qualidade de vida, da moradia, do saneamento, da segurança pública, do trabalho, da educação e das diversidades culturais e religiosas. Enfim, possibilidades de construção de uma cidadania democrática, cidadania ativa que apresenta condições à participação das pessoas, acompanhamento dessa participação e avaliação das ações definidas coletivamente. Cidadania que, necessariamente, esteja pautada por princípios como o da liberdade, da igualdade e da diversidade mesmo que se afirme a interdependência entre todas essas dimensões da vida.
Tudo isso, na perspectiva desse Plano, a educação se transforma em um instrumento fundamental de exercício e de busca desses direitos. Processos educativos que precisam estar norteados na perspectiva de uma educação traduzida como um processo sistemático e de variadas dimensões para a orientação e formação do sujeito e da pessoa, orientada à luta por
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Educação em Direitos Humanos: fundamentos teórico-metodológicos
seus direitos. Uma educação que articule, historicamente, os direitos humanos com os contextos internacional, nacional e local. Uma educação que possa externar a compreensão de que os direitos humanos estejam presentes em todos os ambientes da sociedade e que a sua presença seja destaque não só nos níveis de cognição mas, também, no social, no ético e no político.
A construção coletiva de cidadania democrática, crítica e ativa insere-se nessa perspectiva, enfatizando as metodologias apropriadas para o cumprimento de suas metas, além de práticas educativas que conduzam para a promoção, proteção, defesa e reparação das violações desses direitos. Nessa visão, a educação “é compreendida como um direito em si mesmo e um meio indispensável para o acesso a outros direitos” (BRASIL, 2006, p.18). Dessa maneira, passa a contribuir para a criação de uma cultura universalizante, sem aniquilar as culturas locais, e para o exercício do respeito, da tolerância, da valorização da diversidade e fortalecimento de regimes democráticos, além de ser capaz de difundir os direitos humanos no país. A questão que se coloca é: qual é essa educação, bem como suas chances de realização? A resposta aqui apresentada é a Educação Popular, com suas diferenciadas metodologias possíveis no mundo do trabalho e da vida das pessoas.
A educação popular
Qualquer tipo de educação não conduz ao cumprimento dos anseios de humanos na busca de direitos para todos e todas, e em mesma intensidade. A educação que pode contribuir de forma decisiva para esses anseios, é a educação popular. O desafio que se abre, contudo, é traduzido pela qualificação posta à educação para os direitos humanos – popular. Essa educação não pode ser uma educação que arraste consigo um significado meramente simbólico. Uma educação que possa encaminhar os exercícios e possibilidades para os direitos humanos precisa resistir a qualquer tentativa de compreensão que a transforme em fórmula abstrata ou mesmo vazia. Educação, em sua etimologia, remete a algo como intrínseco às relações humanas e sociais ou, mais precisamente, como um fenômeno de apropriação da cultura. É tema de um amplo significado, assim como cultura, aqui, entendida como expressão da criação humana, fruto das complexas
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operações em que o humano vem apresentando, historicamente, no trato com a natureza material, na luta para sobrevivência própria e, também, no campo simbólico.
A educação realiza-se de forma espontânea, em qualquer lugar; efetiva-se ainda de forma reflexiva ou sistemática quando são estabelecidas técnicas apropriadas na busca de se obter melhor rendimento educativo (a teoria pedagógica). Entretanto, a operacionalidade (preceitos e leis) e as opções de técnicas ou metodologias desse processo educativo sistematizado são demarcadas por uma política de educação. É nesse sentido que cabe questionar quanto ao direcionamento desejado para os processos educativos: aonde se deseja chegar com essa teoria pedagógica, gerada dos fatos pedagógicos e permeada de uma política de educação, voltada aos direitos humanos? Ora, o significado dessa educação também não pode prestar-se para absorver qualquer experiência como se fosse educativa e, muito menos, deve considerar o interesse no avanço dos direitos humanos. Há, inclusive, aquelas que se dizem popular, mas que buscam, através de outras técnicas, promover a inculcação do silêncio nas mentes das classes despossuídas da sociedade, roubando-lhes a sua inerente capacidade de indignação.
Por outro lado, políticas de educação, traduzidas em leis ou preceitos, reclamam as tantas possibilidades de organização dos trabalhadores e promoção da cidadania (democrática, crítica e ativa), dando ênfase aos processos de participação em toda a dimensão da vida. É o desvelamento dos espaços sociais, como a casa, a escola e a cidade, tornando-os efervescentes ambientes de solidariedade. As ações em políticas de educação podem conduzir para um novo agir político, indo além da razão instrumental apegada aos fazeres do dia-a-dia, simplesmente. Uma outra razão que promova a comunicação através do diálogo, definida em contraponto aos modelos autoritários e opressores da tradição secular, acompanhada de princípios éticos valorizadores do humano e não das coisas, educando para uma nova estética política e, assim, estabelecendo outros patamares de civilização.
Avanços que podem ser externados pela dimensão do popular, à medida que este adquire a compreensão não de algo que, simplesmente, tenha tido origem no povo ou nas maiorias. Várias são as formulações advindas do povo e das maiorias que, contudo, estão profundamente
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permeadas de contaminação ideológica das classes dominantes. Esse povo ou essas maiorias também estão contaminados das propostas da dominação. Não cabe, simplesmente, a visão de popular como algo que tem origem no institucional como sindicatos, associações ambientalistas, associações de moradores e outros tipos. Muito menos a visão de que popular é uma mera questão de consciência.
Para além dessas possibilidades de compreensão, esta pode ser extraída das lutas dos trabalhadores por seus direitos, compreendendo-se popular1 como algo ou atitude que podem trazer consigo um procedimento que incentive a participação das pessoas, ou seja, um meio de veiculação e promoção para a busca da cidadania, para a luta pelos direitos humanos. Popular como medidas ou políticas para ampliação de canais de participação das pessoas. Popular como todo tipo de atitude que possibilite a tomada de decisão da pessoa, ouvindo-se e implementando-se decisões e possibilitando novas formas de intervenção nos seus ambientes de vida. Popular, assim, assume um cristalino posicionamento político e filosófico diante do mundo, arrastando para si a dimensão propositivo-ativa de encontro com os direitos das pessoas, com os direitos humanos. Popular como expressão de todo conjunto de atitudes em condições de assumir as lutas do povo e voltadas aos interesses das maiorias, resgatando a visão da mudança necessária para melhoria do mundo dos direitos e da vida das pessoas.
Popular adquire uma atual plasticidade conceitual que exige definição rigorosa, expressão dialética de movimento intrínseco no próprio conceito, inserido no marco teórico da tradição, contudo, atualizado para as exigências dos tempos dos direitos humanos. O termo relaciona as dimensões constitutivas de realidade e atualizadas para o campo das políticas públicas, tendo as dimensões de origem das formulações mas que por si só não bastam, pois cobra-se o direcionamento dessas atitudes postas; o componente político essencial e norteador dessas ações; as metodologias apontando o direcionamento dessas ações, além dos aspectos éticos e utópicos que se tornam uma exigência. A busca incessante pela utopia da
1 Compreensão extraída da pesquisa realizada no ano de 2003, em vários movimentos sociais, no Estado da Paraíba, destacando-se lideranças desses movimentos e dirigentes de partidos que assumem as lutas ditas populares. Coordenada pelo Prof. José Francisco de Melo Neto e vinculada a Programa de Iniciação Científica da UFPB.
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democracia como um valor permanente, devendo ser vivida sem qualquer tipo de entrave.
No campo específico da educação, as ações populares precisam mostrar a sua origem e se elas estão vindo pelos esforços, pelo trabalho do povo, pelas maiorias (classes), pelos que vivem e viverão do trabalho. Contudo, a ação popular pode vir de agentes externos ao povo, mas chama-se atenção a todo tipo de populismo que isto pode gerar.
É preciso ter-se conhecimento da direção em que está apontando o algo que se postula popular. É preciso saber quem está sendo beneficiado com aquele tipo de ação. Algo é popular se tem origem nas postulações dos setores sociais majoritários da sociedade ou de setores comprometidos com suas lutas, exigindo que as medidas a serem tomadas beneficiem essas maiorias” (MELO NETO, 2004, p. 158).
O popular, assim expresso, qualifica a educação popular como fenômeno de produção (trabalho) e apropriação dos produtos culturais, expresso por um sistema aberto de ensino e aprendizagem, constituído de uma teoria de conhecimento referenciada na realidade, com metodologias (pedagogia) incentivadoras à participação e ao empoderamento das pessoas, valorizando sua dimensão coletiva, com conteúdos e técnicas de avaliação processuais, permeado por uma base política estimuladora de transformações sociais e orientado por anseios humanos de liberdade, justiça, igualdade e felicidade.
As ações exigem o seu interrelacionamento e estão pautadas por princípios e experiências que formam um todo, uma unidade. Mesmo expressando uma unidade, educação popular é um sistema aberto que relaciona ambiente de aprendizagem e sociedade, a educação e o popular e vice-versa. Detém uma filosofia com uma específica teoria de conhecimento, baseada na realidade. Acompanham-na, ainda, metodologias específicas de produção do conhecimento que elaboram conteúdos com técnicas específicas de avaliação, assentada em uma sólida base política.
Essa busca por conhecimento e por direitos humanos é o caminho do fazer história, indo ao encontro de novos temas, valores, atitudes e comportamentos. Educação popular como um trabalho humano que se dá em e pela prática do indivíduo, humanizando a natureza e naturalizando.
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Como metodologia, contribuirá aos protagonistas dos direitos humanos na perspectiva da sistematização, da reorganização de seus conteúdos bem como de sua reelaboração, encaminhando novas sínteses entre o conhecimento científico e os conhecimentos resultantes das práticas coletivas das classes trabalhadoras.
Como conteúdo específico, tem-se a procura pela inserção dos direitos humanos em conteúdos advindos da própria realidade de aprendizagem de cada um, sejam moradores de periferias de cidades, camponeses e outras categorias de pequenos produtores rurais de trabalho direto, incluindo aí a educação indígena, não-seriada.
A base política desse tipo de educação para os direitos humanos adquire significado enquanto promotora da superação do silêncio das maiorias (FREIRE, 1983), da preparação intelectual dos trabalhadores, da construção moral dessa classe, para o preparo das maiorias para a capacitação de direção política, da resistência a uma ética do toma-lá-dá-cá, enfim, da visão pedagógica de que todos aprendem conjuntamente com a clareza do risco existente do processo criativo e na existência humana de se atuar para as mudanças.
Educação popular para os direitos humanos na escola
A educação popular para os direitos humanos transpõe os muros da escola. Não estando prisioneira de aspectos meramente cognitivos, insere-se e se conduz pela participação da comunidade em suas atividades. Dessa forma, caminha para a superação de uma variada metodologia escolar que só promove o distanciamento entre docente e discente. Assume um posicionamento de que, ao tratar das questões da comunidade, vai além dessas questões, desenvolvendo atividades pedagógicas que se pautam pelas discussões, pelo diálogo entre profissionais da escola e a comunidade, promovendo, enfim, atitudes de esclarecimento de questões mais gerais da sociedade. Esse caminho é o que parece possibilitar uma educação, agora popular, em condições de garantir valores como a pluralidade de idéias e a alteridade, garantindo maiores espaços à promoção da igualdade de oportunidades, participação e exercício da autonomia. É nesse ambiente de debates e de tomadas de ações que se abrem as perspectivas da discussão
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dos direitos humanos, em todos os níveis da educação de sala de aula, seja no nível fundamental, médio e superior.
Em nível do Ensino Fundamental e Médio, esses princípios e valores que permeiam a educação popular, estarão presentes em suas variadas séries e atividades outras promovidas pela escola. Esta é um espaço onde pode-se exercitar o entendimento mútuo, o respeito e a independência das pessoas. É na escola onde a diversidade étnica, cultural e religiosa mais se apresenta e onde os preconceitos devem ser combatidos. Nesse ambiente, pode-se aprender e exercitar a cidadania democrática, os direitos humanos, com todos os princípios listados, compondo os indicadores para uma educação popular e definindo a sua própria qualidade.
Pode-se, a partir disso, destacar a presença dos direitos humanos desde a organização do Projeto Político-Pedagógico (PPP), a produção e o manuseio do material didático-pedagógico e a próprio redirecionamento da gestão escolar para o exercício da participação. As ações dessa educação popular e de escola vão desde as definições do plano político até as definições curriculares de conteúdos, procedimentos avaliativos, podendo avançar para o incentivo às propostas pedagógicas criativas da escola, até a realização da pesquisa.
No Ensino Profissionalizante, a ênfase aos direitos humanos é conduzida pela perspectiva teórica do trabalho, em meio a uma avalanche de modificações que compõem o mundo da vida, hoje, com a mundialização das relações econômicas, sobretudo. Um trabalho que não crie apenas bens. Um trabalho que produza a si mesmo, bem como ao trabalhador como uma mercadoria, e alienante, precisa ser superado. Um trabalho que aliena e arrebata do produtor o produto do seu trabalho. Este, inclusive, passa se lhe opor como um ser alienado, tornando-se uma força independente do próprio produtor. Defende-se o trabalho como atividade racional humana na produção tanto de bens materiais como de bens espirituais ou simbólicos. Uma educação que possibilite a superação daquele tipo de trabalho que conduz à perversão do trabalhador.
A superação dessa possibilidade do trabalho se dará pela educação popular como expressão de uma atividade que é geradora de um produto, podendo ser o conhecimento, mas que exige o envolvimento dos que atuam nessa produção, tanto discentes como os demais profissionais da
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escola e a comunidade. Assim, passam a ser os produtores e possuidores dos produtos de seu trabalho, agora, como produtos culturais.
No campo da Educação Superior, o ensino em todos os campos do conhecimento pode estar permeado pelos direitos humanos. A educação popular também se realiza nesse nível de educação. Vai para além das dimensões do local, podendo acontecer em quaisquer ambiente onde aconteça o fenômeno do ensino e da aprendizagem. Há educação popular nos níveis da Educação básica, Educação Profissional e Educação Superior – graduação e pós-graduação.
No campo da pesquisa, as temáticas direcionadas à comunidade deverão estar presentes, pois a educação popular se pauta por uma teoria de conhecimento que parte da realidade. Aí estão os direitos humanos, transformados em ensino e como campo de pesquisa. Um campo em condições de ser analisado, discutido, assumido e conquistado. A produção do conhecimento em direitos humanos não como uma mera relação entre saberes acadêmicos e saberes populares. Uma produção que insira em seus mecanismos produtivos a efetiva participação da comunidade na atividade universitária.
Ainda na Educação Superior, serão determinantes para os direitos humanos as atividades de extensão universitária ou da extensão popular. Um conceito que esteja atualizado para as necessidades que estão apresentadas no atual momento histórico, exigindo práticas voltadas às questões concretas da comunidade. Esta intervenção não tem o desejo de substituição das responsabilidades do Estado. Pretende-se a produção de saberes científicos e tecnológicos quanto artísticos e filosóficos, com a acessibilidade da comunidade.
A extensão popular, entendida no marco teórico do trabalho não alienante, promove ações educativas populares capazes de apresentar a opção pelo trabalho social útil, com a intencionalidade de estar voltado à organização dos setores sociais, na perspectiva de sua auto-organização (MELO NETO, 2004a). São ações em educação popular conduzidas pela extensão popular, pautadas nos princípios dos direitos humanos que podem desenvolver um conjunto de outros valores ou mesmo de novas ações:
norteadoras de práticas extensionistas, que vislumbrem os seguintes aspectos: a compartilhação dos conhecimentos e
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das atividades culturais; a promoção da busca incessante de outra racionalidade econômica internacional; a comunicação entre indivíduos, a responsabilidade social, direitos iguais a todos, respeito às diferenças e às escolhas individuais ou grupais, novos elementos que potenciem a dimensão comunitária e a solidariedade entre as pessoas. (MELO NETO, 2006, p. 43)
Pode inserir-se em todas essas dimensões de variadas formas. Pode ocorrer como disciplinas e contando como carga horária regular nos cursos de graduação. Nos cursos de pós-graduação, órgãos governamentais já pontuam programas de pós que realizam trabalhos de extensão na formação dos pós-graduandos, portanto, de forma transversal, podendo assumir os direitos humanos em programas escolares, do nível elementar ao nível da pós-graduação.
Educação popular para os direitos humanos no cotidiano
A educação popular em sua dimensão política passa a se orientar por princípios da autonomia e da emancipação. Em qualquer ambiente onde ocorra o fenômeno da educação, aí esses valores precisam estar presentes – os valores dos direitos humanos. A sua implementação direciona-se pelo exercício da crítica, como a capacidade humana de discernir as dimensões positivas e negativas de cada fenômeno, decidindo-se a partir desse processo mental. Ora, no cotidiano, as reivindicações populares vão se constituir como elementos educativos dessa educação e se concretizar como componentes dos direitos humanos. São as reivindicações gerais pela qualificação para o trabalho, educação básica para todos, a participação política nos grupos sociais e mesmo reivindicações pela educação política nos movimentos sociais e partidos políticos. Uma educação que vislumbra a mobilização e a organização de todo e qualquer processo que promova a participação das pessoas nos mecanismos de decisão. Os conteúdos e as práticas dessas reivindicações tornam-se efetivos como direitos humanos.
Os gestores públicos poderão inserir em seus processos de atualização de quadros de setores específicos a temática dos direitos humanos. Direitos humanos não como mero momento de estudos mas como momentos de exercícios de ensino e aprendizagem.
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De forma igual, pode-se ter a educação pela informática e a permanente procura por qualificação nessa área, nos variados ambientes, contemplando os direitos humanos e superando a formação unicamente técnica ou operadora de máquinas eletrônicas. Assim, também, é possível nos programas e atividades esportivas. Todos como ambientes de educação em que podem ser exercitados por princípios educativos da educação popular para os direitos humanos.
Dessa forma, é possível o incentivo ao exercício da utopia de sociedade, o exercício para uma outra sociedade, estando presente no dia-a-dia das pessoas. Em todos esses ambientes, vivenciando-se os direitos humanos, considerando que a sua ausência não pode ser o referencial para a vida humana. A educação popular para os direitos humanos destaca a multiculturalidade, expressão da unidade dessa variedade. Entendida, portanto, como “criação histórica e, como tal, exige de todos nós o estabelecimento democrático coletivo de fins comuns para uma convivência ética” (PADILHA, 2005, p.171).
Uma educação que acontece nas relações do cotidiano e que está presente na educação popular freireana, com validade para todo canto e lugar. Uma escola em que a educação é popular pois significa uma leitura do mundo para a sua transformação. Essa leitura do mundo, todavia, não se faz senão com instrumentos adequados para tal. Esta ferramenta é o diálogo que está presente nessa pedagogia, efetivando-se em atitudes comunicativas.
Destaca-se a produção do conhecimento pela pesquisa participante, pela pesquisa-ação, sendo estas perspectivas abertas para as comunidades, para as pessoas e o atendimento de suas necessidades. Tudo isto, ajudado por um planejamento guiado pela participação comunitária ou por uma gestão participativa. Esta é a educação popular em suas dimensões éticas e filosóficas para os direitos humanos.
Considerações Finais
A educação popular para os direitos humanos, assim, permeia a vida de uma sociedade. Como produto do esforço humano e expressão de um trabalho de superação da alienação, estará presente, em especial, na formação geral e profissional das pessoas, expressando a luta contra
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o desemprego e contra a não cidadania, fomentando a descoberta do próprio trabalho gerador de renda para todos. Estará presente, em especial, nesse momento em que as relações no trabalho se complexificam e suas possibilidades tornam-se mais exíguas. Um momento em que a pedagogia dominante está questionada, alimentando a busca de indicadores de qualidade social dessas práticas educativas, enunciando novas crises dessas práticas de ensino e de aprendizagem, dos direitos, da cultura e da própria civilização.
Uma civilização que estendeu os seus tentáculos por todo mundo com a sua ciência própria, sua tecnologia e seu estilo de vida. Novas são as crises para a odisséia humana que se debruça na dúvida de suspirar, ora para um retorno à natureza, recorrente às questões do ambiente, ora, para uma idealização de vida inconclusa e carente de sentidos e valores. Tudo isto cobra definições para a existência de uma sociedade de direitos, democrática e, necessariamente, ética.
Na luta por modelos de sociedade, pode até apontar para algum tipo de socialismo. Um modelo que sofreu com as tantas quedas de barreiras de tantas berlins mas que indiferentemente do modelo assumido, no dizer de Kaustky (1979), o renegado, precisa valorizar a democracia. E ai, vale, inclusive a preocupação de Lyra (2002) nessa construção da democracia, no caso brasileiro, onde se tem uma convergência de lutas socialistas e democráticas, materializadas nos exercícios de participação, contudo, afrontada por uma forte presença de desigualdades sociais. Ora, no caminho da superação dessas desigualdades e conquistas de direitos humanos, encontra-se a educação cultivada com bases filosóficas e políticas da educação popular.
Referências
BRASIL. Comitê Nacional de Educação em Direitos Humanos. Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos: 2006. Brasília: Secretaria Especial dos Direitos Humanos, Ministério da Educação, Ministério da Justiça, UNESCO, 2006.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 13 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983.
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KAUSTKY, Karl. A ditadura do proletariado. KAUSTY, LÊNIN. A ditadura do proletariado. A revolução proletária e o renegado Kaustky. São Paulo: Ciências Humanas, 1979.
LYRA, Rubens Pinto. Abordagens históricas e atuais da relação entre democracia política, direitos sociais e socialismo. In: ____. (org.) Direitos humanos: os desafios do século XXI – uma abordagem interdisciplinar. Brasília: Brasília Jurídica, 2002. p. 135-148.
MELO NETO, José Francisco de. Educação popular - uma ontologia. In: MELO NETO, José Francisco de; SCOCUGLIA, Afonso Celso Caldeira (Orgs.) Educação Popular – outros caminhos. João Pessoa: Editora Universitária/UFPB, 2001. p. 31-74.
________. Extensão universitária, autogestão e educação popular. João Pessoa: Editora Universitária/UFPB, 2004.
________. Extensão universitária é trabalho. João Pessoa: Editora Universitária/UFPB, 2004a.
________. Extensão popular. João Pessoa: Editora Universitária/UFPB, 2006.
PADILHA, Paulo Roberto. Educação em direitos humanos sob a ótica dos ensinamentos de Paulo Freire. In: SCHILLING, Flávia (Org.). Direitos humanos e educação: outras palavras, outras práticas. São Paulo: Cortez, 2005. p. 166-

O PAPEL DOS MOVIMENTOS SOCIAIS NA CONSTRUÇÃO DE OUTRA SOCIABILIDADE


O PAPEL DOS MOVIMENTOS SOCIAIS NA CONSTRUÇÃO DE OUTRA SOCIABILIDADE [1]

GT3- Movimentos sociais e Educação
Sandra Maria Marinho Siqueira[2] (FACED/UFC)


1.     Introdução

O objetivo precípuo deste texto é oferecer um olhar particular, fundado na análise de uma multiplicidade de concepções de autores diversos, dentre os quais podemos destacar ALAN TOURAINE (1977; 1989), MELLUCCI (1989), CASTELLS (1974; 1980; 1997), CLAUS OFFE (1992; 1988), TARROW (1994), GOHN (1995; 1997), ILSE SCHERER-WARREN (1996) e outros que tematizam sobre os movimentos sociais, quanto ao seu aspecto conceitual e, particularmente, quanto ao seu projeto de mudanças dentro ou para além das condições societárias atuais.
Embora as abordagens sejam distintas e heterogêneas, não podemos deixar de tê-las presente no debate. É importante lembrar que GOHN (1997) faz algumas interrogações àqueles que estudam a problemática dos movimentos sociais, ao perguntar-se sobre o papel dos movimentos sociais na atualidade e o que ocorre de fato quando uma ação coletiva expressa nos movimentos sociais, se institucionaliza.
GOHN (1997) considera essas questões supramencionadas como não resolvidas do ponto de vista teórico, necessitando serem aprofundadas. Em seu livro teoria dos movimentos sociais, a autora realiza um itinerário histórico-conceitual de diferentes paradigmas, tais como o paradigma europeu, o americano e latino-americano, aos quais se vinculam, com suas particularidades, autores de influencia no campo das ciências sociais e, principalmente, nas análises sobre movimentos sociais.
O dissenso dessas concepções sobre “novas” formas de organização dos sujeitos sociais em torno de interesses particulares com concepções de movimentos sociais defendidas pelos autores de inspiração marxistas está no marco de um debate em torno do papel dos movimentos sociais na superação das formas de dominação capitalistas e na construção de uma nova sociabilidade[3].

2.     Visões e vertentes dos “novos” movimentos sociais

Um ponto a ser destacado se refere ao conceito de movimento social, como esses movimentos são analisados quanto a sua formação, dinâmica interna e seu projeto de sociabilidade, pois variados são os critérios utilizados pelos autores em sua caracterização, e como diferenciar um movimento social de outras ações coletivas que não necessariamente possam ser consideradas como movimentos sociais.
Por “novos” movimentos sociais compreendem-se os movimentos das mulheres, ecológicos, contra a fome e outros, sinalizando em princípio um distanciamento do caráter classista que se configurava nos movimentos sindicais, operários em torno do mundo do trabalho, o que não significa que em determinados momentos históricos possam assumir uma contraposição com o sistema econômica e social vigente. Entretanto, assevera GOHN (1995) que os novos movimentos sociais se contrapõem aos “velhos” e historicamente tradicionais movimentos sociais em suas práticas e objetivos.
Para GOHN (1995, p. 44), movimentos sociais

são ações coletivas de caráter sociopolítico, construídas por atores sociais pertencentes a diferentes classes e camadas sociais. Eles politizam suas demandas e criam um campo político de força social na sociedade civil. Suas ações estruturam-se a partir de repertórios criados sobre temas e problemas em situações de: conflitos, litígios e disputas. As ações desenvolvem um processo social e político-cultural que cria uma identidade coletiva ao movimento, a partir de interesses em comum. Esta identidade decorre da força do princípio da solidariedade e é construída a partir da base referencial de valores culturais e políticos compartilhados pelo grupo.

Os “novos” movimentos sociais desenvolvem ações particularizadas relacionadas às dimensões da identidade humana, deslocada das condições socioeconômicas predominantes, de modo que suas práticas não se aproximam de um projeto de sociabilidade diferenciada das relações sociais capitalistas, ou seja, não se voltariam para a transformação das atuais formas de dominação política e econômica, no sentido da construção de sociedade baseada na organização coletiva e no desenvolvimento das potencialidades humanas na direção não-capitalista.
Segundo ILSE SCHERER-WARREN (1996, p.49/50) têm emergido “novos” movimentos sociais

que almejam atuar no sentido de estabelecer um novo equilíbrio de forças entre Estado (aqui entendido como o campo da política institucional: o governo, dos partidos e dos aparelhos burocráticos de dominação) e sociedade civil (campo da organização social que se realiza a partir das classes sociais ou de todas as outras espécies de agrupamentos sociais fora do Estado enquanto aparelho), bem como no interior da própria sociedade civil nas relações de força entre dominantes e dominados, entre subordinantes e subordinados.

Na óptica de TOURAINE (1977; 1989) movimentos sociais podem ser definidos como ações coletivas associadas à luta por interesses, associados à organização social, a mudanças na esfera social e cultural. Evidentemente, essa mobilização é realizada contra um opositor, que resiste. Na compreensão de GOHN (1997, p. 145), TOURAINE entende que os

movimentos sociais são frutos de uma vontade coletiva. “Eles falam de si próprios como agentes de liberdade, de igualdade, de justiça social ou de independência nacional, ou ainda como apela à modernidade ou à liberação de forças novas, num mundo de tradições, preconceitos e privilégios” (Touraine, 1978:35). Eles, movimentos, não seriam heróis coletivos, acontecimentos dramáticos, mas simplesmente parte do sistema de forças sociais dessa sociedade, disputando a direção de seu campo cultural. Ao mesmo tempo, Touraine assinalou que os movimentos são as forças centrais da sociedade por serem sua trama, o seu coração. Suas lutas não são elementos de recusa, marginais à ordem, mas ao contrário, de reposição da ordem. Ele chegou a postular que a sociologia contemporânea seria o estudo dos movimentos sociais, pois tratar-se-ia de um objeto de análise que traz o ator social de volta (...)

  O caráter propriamente propositivo dos movimentos sociais fica mais claro nas análises de CASTELLS (1997), a quem se dedica grande influência nas produções sobre movimentos sociais brasileiros em décadas anteriores, para quem, segundo nos indica GOHN (1995, p. 42), constituem os movimentos sociais “ações coletivas propositivas as quais resultam, na vitória ou no fracasso, em transformações nos valores e instituições da sociedade”.
Para TARROW (1994) os movimentos sociais surgem como expansão da atividade política a partir do século XIX, defendendo interesses próprios, a fim de provocar mudanças institucionais, utilizando-se de formas de organização e atuação não-convencionais, ou seja, passeatas, atos de violência, protestos, etc.
Criticando a centralidade da categoria trabalho na atualidade, o que tem levado muitos marxistas a voltar-se à obra de MARX e outros autores marxista como LUKÁCS a fim de responder as ponderações e críticas à crise da “sociedade do trabalho”, OFFE irá elaborar as bases para os denominados “novos movimentos sociais”. Para ele (OFFE, 1992, p.181) as bases sociais desses novos movimentos seriam

1.          A nova classe média, especialmente aqueles elementos que trabalham em profissões de serviços humanos e/ou no setor público;
2.          Elementos da velha classe média, e
3.          Uma categoria da população formada por gente a margem do mercado de trabalho ou em uma posição periférica respectivo a ele.
 
É nessa última direção, ou seja, de reafirmar as potencialidades conflitivas dos “novos” movimentos sociais com as relações de produção capitalistas, que de fato não conseguem realizar e satisfazer os anseios por uma vida plena de sentido, que aponta o pensamento de ANTUNES (1997, p. 86) ao afirmar que

(...) outras modalidades de luta social (como a ecológica, a feminista, a dos negros, dos homossexuais, dos jovens etc.) são, como o mundo contemporâneo tem mostrado em abundância, de grande significado, na busca de uma individualidade e de uma sociabilidade dotada de sentido.  

Note-se que uma visão de movimento social distanciado de uma concepção classista e de um projeto global de sociedade, voltada para a subjetividade, em si, poderia expressar uma preocupação com a condição do indivíduo. Entretanto, essa visão de particularizar e individualizar os movimentos, sem levar em consideração que a própria subjetividade e individualidade apresentam-se contextualizadas numa teia de relações sociais, em que a grande maioria dos indivíduos encontra-se explorados pela lógica do capital, e que qualquer movimento, que não tenha claros objetivos para além da ruptura com a exploração, podem ser absorvidos pela institucionalidade e, mesmo, assimilados como mantenedores em última instância de uma ilusória participação social na estrutura do poder.[4]
Sabemos que o fim último da ação humana é alcançar a felicidade, só que este objetivo, imanente ao ser humano, difere quanto a sua natureza, finalidade. Entretanto é mister a participação do ser humano em processos coletivos para que ele possa vivenciar experiências que promovam a consciência auto-emancipadora e desperte-o para a busca da omnilateralidade.[5] Neste sentido, os movimentos sociais agem inicialmente como mediadores no processo de busca de respostas às interrogações suscitadas no cotidiano, projetando-se para uma perspectiva maior do que os problemas da cotidianidade.
Como afirma ANTUNES (1997, p. 117),

Decisivo aqui é referir que a consciência é originada no interior da vida cotidiana. É na cotidianidade que as questões são suscitadas e as respostas dos indivíduos e das classes são uma constante busca de indagações que se originam na vida cotidiana, onde as questões lhes são afloradas. As respostas às questões mais complexas são, entretanto, mediatizadas. 

Devendo ocorrer um reconhecimento do ser no outro e, particularmente, no gênero humano, entretanto, as classes sociais, segundo ANTUNES (1997), particularizam e limitam o ser social, e a generidade cai numa profunda abstração, pois o homem que pertence a determinada classe não se reconhece no outro, que pertence a outra classe. Na perspectiva do capital, os projetos individuais são conformados aos interesses de uma classe social econômica e socialmente dominante, fazendo-se crer que há liberdade para promover as potencialidades humanas.
Na visão de LUKÁCS, citado por ANTUNES (2001, p. 118), os indivíduos.

elevam-se até o ponto de adquirirem uma voz cada vez mais articulada, até alcançarem a síntese ontológico-social de sua singularidade, convertida em individualidade, como gênero humano, convertido neles, por sua vez, em algo consciente de si.

Os “novos” movimentos sociais para possibilitarem aos indivíduos a sociabilidade coletiva e plena de sentido necessitam construir e desenvolver ações para além das formas atuais de sociabilidade capitalistas, questionando a ordem do capital, não se perdendo no campo de ações fenomênicas, imediatas e particularizadas. Essas ações são importantes na medida em que estiverem vinculadas a um projeto mais amplo de sociedade, que se constitua em alternativa ao capitalismo.
Se os movimentos se restringem às lutas cotidianas limitadas às reivindicações setoriais, desarticuladas com outras mobilizações, passam a se configurar como ações paliativas e insuficientes para possibilitar mudanças estruturais, fechando-se em si mesmos.Para tanto, ressalta ANTUNES (1997, p. 81), de forma acertada que

É imprescindível articular estas ações mais imediatas com um projeto global e alternativo com um projeto global e alternativo de organização societária, fundamentado numa lógica onde a produção de valores de troca não encontre nenhuma possibilidade de se constituir num elemento estruturante.  

       3. Conceituando os movimentos sociais: conflito de posições

Apesar de não haver uma definição única e universalizante de movimentos sociais (GOHN, 1997; 1982b), entende-se que representam o conjunto de ações coletivas dirigidas tanto à reivindicação de melhores condições de trabalho e vida, de caráter contestatório, quanto inspirado pela construção de uma nova sociabilidade humana, o que significa, em última análise, a transformação das condições econômicas, sociais e políticas fundantes da sociedade atual.
Reconhece-se que numerosos autores se propuseram estudar os movimentos sociais em seu desenvolvimento histórico, na sua composição social, em sua dinâmica interna, em seu metabolismo com o poder, enfim em sua capacidade de não só imprimir novas configurações às relações sociais, mas de se tornarem potencialidades transformadoras e reconstrutivas de uma sociabilidade diferenciada.
Dessa forma, pode-se encontrar orientações, a representar vários paradigmas, com os quais se procura apreender os movimentos sociais ou intervir em seu processo, destacando-se as leituras empreendidas por MARX (1982; 1979), GRAMSCI (1966a; 1966b; 1968; 1976), LUCKÁCS (1979a, 1979b), HOBSBAWM (1970a; 1970b; 1982), e mais recentemente os ideólogos dos denominados “novos movimentos sociais”, que na visão de GOHN (1995, p.44),

(...) foi expressão cunhada na Europa, nas análises de Claus Offe, Touraine e Melucci e diz respeito aos movimentos sociais ecológicos, das mulheres, pela paz e etc. Os novos movimentos se contrapõem aos velhos movimentos sociais, em suas práticas e objetivos, ou seja, se contrapõem ao movimento operário-sindical, organizado a partir do mundo do trabalho.

A tipificação esboçada pelos expoentes dos “novos” movimentos sociais, particularmente quanto à classificação em velhos e novos, pode representar, em si mesma, um outro olhar em relação às formas históricas de organização e mobilização da classe que vive do trabalho, caracterizadas como algo a ser repensado e, em última análise, deslocadas do atual contexto histórico, objetivado-se que o paradigma e as formas de organização dos novos movimentos sociais sejam incorporados pelo movimento dos trabalhadores, colocando em segundo plano a exigência de uma nova sociabilidade, diversa do Capitalismo.
Neste sentido, torna-se fundamental analisar outros autores como MESZÁROS (1981; 1985; 1989), ANTUNES (1997; 2001) e LESSA (1996; 1997), cuja perspectiva supera a visão de movimento social e de organização da classe que vive do trabalho em uma direção corporativa e localizada, para projetar-se como realidade que vivencia os problemas concretos e específicos, mas que tem objetivos comuns com outros movimentos, na medida em que apontam para a superação da sociabilidade do sistema destrutivo do capital. Na visão de ANTUNES (2001, p. 227) a classe trabalhadora 

(...) no mundo contemporâneo é mais complexa e heterogênea do que aquela existente durante o período de expansão do fordismo. O resgate do sentido de pertencimento de classe, contra as inúmeras fraturas, objetivas e subjetivas, impostas pelo capital, é um dos seus desafios mais prementes. Impedir que os trabalhadores precarizados fiquem à margem das formas de organização social e política de classe é desafio imperioso no mundo contemporâneo. O entendimento das complexas conexões entre classe e gênero, entre trabalhadores “estáveis” e trabalhadores precarizados, entre trabalhadores nacionais e imigrantes, entre trabalhadores qualificados e trabalhadores sem qualificação, entre trabalhadores jovens e velhos, entre trabalhadores incluídos e desempregados, enfim entre tantas fraturas que o capital impõe sobre classe trabalhadora (...)   

Para MARX, os movimentos sociais, expressos na luta dos trabalhadores e demais oprimidos pela lógica do capital, entram freqüentemente em conflito com a sociabilidade dominante na medida em que superam os mecanismos que os restringem aos interesses imediatos e particularizados, dirigindo-se para a constituição de novas relações sociais e econômicas. As aquisições no marco do capitalismo, como a emergência de leis reguladoras da exploração social, são analisadas da seguinte forma por MARX (1979, p.307) em O Capital:

O estabelecimento de uma jornada normal de trabalho é o resultado de uma luta multissecular entre o capitalista e o trabalhador. A história dessa luta revela duas tendências opostas. Compare-se, por exemplo, a legislação inglesa do século XIV até à metade do XVIII. Enquanto a legislação fabril moderna reduz compulsoriamente a jornada de trabalho, aqueles estatutos procuram prolongá-la de forma coercitiva. Sem dúvida, as pretensões do capital no seu estado embrionário, quando começa a crescer e se assegura o direito de sugar uma quantidade suficiente de trabalho excedente não através da força das condições econômicas, mas, através da ajuda do poder do Estado se apresentam bastante modestas, caso comparadas com a jornada de trabalho resultante das concessões que, rosnando e resistindo, tem de fazer na idade adulta.  

Mais adiante, em sua análise penetrante do capitalismo, n´ O Capital, Marx  (1979, p. 341) esclarece, de forma lapidar, que

A história da regulamentação da jornada de trabalho em alguns ramos da produção e a luta que ainda prossegue em outros para se obter essa regulamentação demonstra palpavelmente que o trabalhador isolado, o trabalhador como vendedor “livre” de sua força de trabalho sucumbe sem qualquer resistência a certo nível de desenvolvimento da produção capitalista. A instituição de uma jornada normal de trabalho é, por isso, o resultado de uma guerra civil de longa duração, mais ou menos oculta, entre a classe capitalista e a classe trabalhadora. Começando essa luta no domínio da indústria moderna, travou-se primeiro na terra natal dessa indústria, a Inglaterra.  

Daí se defender, na linha de uma visão marxista que os “novos” movimentos sociais podem adquirir um significado para além das relações sociais atuais na medida em que assumam um projeto social, político e econômico que aponte para a construção de uma sociabilidade plena de sentido e diferenciada das relações de produção e de dominação política do capital, criando assim as condições para o desenvolvimento real das potencialidades e da subjetividade humana.
  
4. Contexto histórico de afirmação dos movimentos sociais

A importância dessa pesquisa consiste também na compreensão  do contexto histórico de afirmação, pelos autores, dos denominados “novos” movimentos sociais, como forma de organização e mobilização alternativa às formas históricas de aglutinação e luta do operariado e demais trabalhadores.
Conforme ANTUNES (2001, p. 15), a sociedade contemporânea vem presenciando

profundas transformações, tanto nas formas de materialidade quanto na esfera da subjetividade, dadas as complexas relações entre essas formas de ser e existir da sociabilidade humana. A crise experimentada pelo capital, bem como suas respostas, das quais o neoliberalismo e a reestruturalção produtiva da era da acumulação flexível são expressões, têm acarretado, entre tantas conseqüências, profundas mutações no interior do mundo do trabalho. Dentre elas podemos inicialmente mencionar o enorme desemprego estrutural, um crescente contingente de trabalhadores em condições precarizadas além de uma degradação que se amplia, na relação metabólica entre o homem e a natureza, conduzida pela lógica societal voltada prioritariamente para a produção de mercadorias e para a valorização do capital.

Os movimentos sociais, sejam novos ou tradicionais, encontram-se contextualizados em meio às essas transformações ocorridas na economia, a expansão dos mercados, marcados pela profunda crise estrutural da economia mundial e pelas mudanças nos modelos de organização da produção e do trabalho sob inspiração fordista para um padrão de flexibilização das relações de trabalho e produtivas baseadas no toyotismo.
Uma compreensão adequada dos movimentos sociais deve partir de uma análise totalizante das condições de reprodução do capital na atualidade, a partir das mudanças verificadas na sociedade, tanto de ordem econômica, como política, social e tecnológica. Para tanto, é imprescindível clarificar os elementos da Globalização ou, para outros, da mundialização do capital[6].
Partindo dos Estados Unidos (EUA) para a linguagem econômica internacional, o termo “global” expandido-se para todos os rincões do mundo, sendo acolhido pelos pesquisadores sem qualquer margem de crítica, com raras exceções, principalmente do campo marxista. Desde o começo dos anos 80, as universidades americanas trabalham o termo dentro de uma economia de mercado, de administração de empresas, principalmente em nível dos grandes grupos internacionais.
As maiores escolas de Administração de Empresas de Harvard, Columbia, Stanford etc. popularizaram o termo. Em pouco tempo tomou conta dos discursos que tentam legitimar teoricamente a prática política neoliberal. Os escritores nas áreas da economia e da política financeira acolheram sem precauções nem limitações o termo global, apesar de impreciso (CHESNAIS, 1996, p.23).
Normalmente, a globalização é associada ao progresso técnico, por isso tende a ser encarada como necessária e benéfica para todos os povos civilizados. Os países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento deveriam por esse motivo adaptar-se sem restrições à dinâmica e aos propósitos da proposta global. A globalização é o produto mais acabado da economia de mercado do final do século. Já não existem dois mundos como na época da guerra fria, em que blocos de poder, o soviético e o americano se ameaçam.
E não foram poucos os fatos históricos que surpreenderam todo o mundo na década passada, e início dos anos 90. Entre eles destacamos: a queda do muro de Berlim em 1989, o fim da denominada Guerra Fria entre EUA e URSS, o desmoronamento da URSS e a formação de vários Estados Soberanos como Ucrânia, Rússia, Lituânia, Letônia, etc. e por último o avanço descomunal do progresso tecnológico. Como expressão das forças econômicas, a adaptação dos países deve ser levada a efeito mediante a liberalização e desregulamentação, que as empresas tenham liberdade de ação e movimento e que todos os setores da via humana.
Assim, apesar da enorme taxa de desemprego que se abate sobre os países, principalmente os de economia atrasada, e mesmo diante da crise social e financeira pelas quais passam a maioria das nações os organismos internacionais reconhecem esses fenômenos como contingências pelas quais devem passar os Estados para gozar os benefícios da globalização, conforme a Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (CHESNAIS, 1996, p. 25). Ocorre um aprofundamento ou ampliação do processo de internacionalização do capital. Escreve SANTOS (1996, p. 163): 

(...) a mais-valia no nível global contribui para ampliar e aprofundar o processo de internacionalização que alcança um novo patamar. Agora se mundializa: a produção, o produto, o dinheiro, o crédito, a dívida, o consumo, a política e a cultura. Esse conjunto de mundializações, cada qual sustentado, arrastando, ajudando a impor a outra, merece o nome de globalização.

IANNI (1995) chega a dizer que são diversas e antigas as instituições e indicações mais ou menos notáveis de globalizações, e que a atual etapa significa um grau maior de internacionalização da economia. A internacionalização da produção, a revolução tecnológica nas comunicações, o avanço da informática no processo produtivo, a reestruturação da relação capital e trabalho têm influenciado a questão educacional: tudo isso mexeu com os valores, as crenças, a lógica, o pensamento e as práticas.
O primeiro elemento realçado pela autores seria a tendência à formação de blocos internacionais de poder, a fim de regulamentarem as relações econômicas entre os mesmos e aprofundar a circulação de bens, capitais e serviços. As condições para isso deveriam ser criadas pelos Estados no campo institucional, de modo a proporcionar padrões para as novas relações econômicas. Com essas mudanças as condições de vida e de consumo da população em geral melhorariam.
Entretanto, os dados revelam as profundas contradições sociais e o incremento sem precedente das desigualdades. A linguagem dos autores, em geral, parecer realçar apenas a questão do mercado, como se esta categoria fosse a fundamental. Os blocos econômicos são associações de países, muitas vezes, fazendo parte de uma mesma região geográfica, como Europa, Ásia, América, etc. Esses países que formam grandes blocos estabelecem através de tratados internacionais relações comerciais privilegiadas entre si, e atuam em “conjunto” no mercado. Planejam formar zonas de livre comércio pela diminuição gradual das barreiras alfandegárias, estreitando as relações econômicas entre os países, aumentando a interdependência.
Outra marca da Globalização seria a denominada “Revolução Tecnocientífica”, cuja tônica embeleza os autores, é rápida transformação técnica principalmente na área da informática e da microeletrônica, comunicação e transportes. Essas inovações serviram para incrementar o comércio e a circulação de capitais em nível mundial. Essas inovações têm desencadeado mudanças nos padrões de organização do trabalho e da produção de mercadorias e serviços.
O anterior método fordista de organização fabril e industrial, que se caracterizava pela produção em massa de bens, aumento do rendimento dos trabalhadores para promover o incremento do consumo no mercado, rigidez na localização das fábricas e nos métodos de produção de mercadorias, foi aos poucos perdendo espaço para o modelo japonês toyotista que se caracteriza pela flexibilização dos padrões de produção de bens e serviços, pelo aumento da produtividade mediante baixos custos e diminuição de salários, deslocamento de ramos inteiros da produção de países para outros, de acordo com as condições oferecidas pelos países onde irão se instalar, liberdade de contratação em todos os países, além de produzir uma desarticulação e complexização da classe trabalhadora.
Nem por isso, alerta ANTUNES (2001, p. 216), e apesar da heterogeneização, complexização e fragmentação da classe trabalhadora

As possibilidades de uma efetiva emancipação humana ainda podem encontrar concretude e viabilidade social a partir das revoltas e rebeliões que se originam centralmente no mundo do trabalho; um processo de emancipação simultaneamente do trabalho, no trabalho e pelo trabalho. Essa rebeldia e contestação não excluem nem suprime outras, igualmente importantes. Mas, vivendo numa sociedade que produz mercadorias, valores de troca, as revoltas do trabalho acabam tendo estatuto de centralidade. Todo o amplo leque de assalariados que compreendem o setor de serviços, mais os “trabalhadores terceirizados’, os trabalhadores do mercado informal, os “trabalhadores domésticos”, os desempregados, os sub-empregados etc., pode somar-se aos trabalhadores diretamente produtivos e por isso, atuando como classe, constituir no segmento social dotado de maior potencialidade anticapitalista. Do mesmo modo, a luta ecológica, o movimento feminista e tantos outros novos movimentos sociais têm maior vitalidade quando conseguem articular suas reivindicações singulares e autênticas com a denúncia à lógica destrutiva do capital (no caso do movimento ecologista) e ao caráter fetichizado, estranhado e des-realizador do gênero humano gerado pela lógica societal do capital (no caso do movimento feminista).  

Neste ínterim, o aperfeiçoamento dos meios de comunicação toma conta da vida de milhões de pessoas, modelando suas condutas e modo de pensar, relacionado a experiência particular aos acontecimentos internacionais. No campo educacional, as políticas têm variado no período de avanço das tecnologias. Mas desde a década de 70 iniciou-se um processo de introdução da tecnologia educacional na profissionalização e formação. Em nossa época, entretanto, emergem novos debates em torno da formação/tecnologia, a partir da crítica das concepções reinantes sobre o tema, superando a visão simplista anterior. O que se  pretende agora é a formação de educadores críticos, engajados no movimento pela escola pública de qualidade, enfim pessoas que reflitam sobre a realidade social e sua própria prática, determinada por uma sobrecarga de trabalho e por um aviltante salário.
Ainda, na teoria política e na História têm surgido concepções e idéias que expressam bem a que ponto chegou a justificação filosófica e política da Globalização e de seu segmento político propriamente dito: o neoliberalismo. Proclamou-se o fim da história, e o começo de uma nova era (FUKUYAMA, 1992; ANDERSON, 1992). A hegemonia de um único sistema: o americano. O fim das ideologias: o envelhecimento do marxismo. Coisas que só poderiam vir de especuladores.
No campo social, o Estado de bem-estar social estaria em declínio, em razão de sua crise histórica, e necessidade de um Estado Mínimo, no sentido de que o Estado deveria se ausentar do mercado e deixar que as atividades econômicas fossem desenvolvidas pelos agentes da economia: capital e trabalho. Foi nesse ambiente de profundas contradições do sistema capitalista, que destrói forças produtivas e mantêm a maioria da sociedade em estado de exploração e alienação, que se proliferam teorias sobre os movimentos sociais, e muitas delas se baseiam em pressupostos equivocados, que necessitam serem repensados e discutidos permanentemente.

4. O engajamento político do docente nos movimentos sociais

Neste contexto, observa-se, então, que o direcionamento dado à política educacional tem imprimido uma clara intenção de subordinar o sistema educacional aos imperativos do modelo econômico. Tal procedimento tem expressado o descaso com os problemas educacionais e as soluções apresentadas não têm resolvido os mesmos. Isto tem trazido reflexos na política de formação docente, bem como na valorização do profissional da educação que se proletarizou (ENGUITA, 1991, p. 41/61). [7]
E o ideário da “pós-modernidade” tem chegado com rapidez aos educadores, impondo condições em relação à formação e qualificação, para a aceitabilidade de uma forma histórica de sociabilidade, o que requer desses atores sociais um esforço redobrado no sentido de resistir às pressões políticas para a reprodução das relações sociais de produção capitalistas.
O crescimento dos problemas tem atingido a categoria, no entanto, não tem servido como elemento propulsor de aproximação dos docentes engajados nos movimentos sociais. Sendo, portanto, necessário revitalizar as práticas sociais desses movimentos para sustentarem as manifestações de contestação e de conflito com as formas de dominação política e econômica reinantes.
A própria história vem demonstrando que o professor tem um papel político a desempenhar, pois tendo consciência crítica da escola e de suas atribuições, estabelece relações entre a escola e a sociedade, posicionando-se como sujeito crítico e esclarecedor, pois é membro da sociedade civil. Assim, a realidade se transforma porque o processo de interações inovadoras requer novas condições sociais, nova distribuição de poder e novos espaços para ir situando novos aspectos de uma cultura, que emerge no ambiente escolar.
E, todo esse processo de mudança conduz a discussões e conflitos polêmicos dentro de uma realidade plural, cujo desenlace, ainda que imprevisível, será obviamente a modificação da sociedade. É no engajamento aos movimentos socais que os professores, na luta pela escola pública, reconstroem a sua prática pedagógica na busca do desenvolvimento integral, como sua individualidade.
Significa dizer que realçamos principalmente a importância do engajamento político do educador nos movimentos sociais, com implicações em sua prática pedagógica, como componente fundamental de elevação da consciência crítico-reflexiva do docente.
Neste sentido, procura-se compreender as implicações do engajamento do educador em sua prática docente, a partir da interação que esse sujeito mantém com os movimentos sociais, irrompendo os limites da sala de aula e projeta-se para o campo da política social e educacional, de concepção de sociedade dentro das potencialidades ontológicas do trabalho, com o objetivo de aproximar as lutas dos docentes às demais camadas exploradas para a constituição de movimentos sociais que tenham um projeto de sociedade que se confronte com as formas de dominações econômicas, políticas e sociais atuais.







BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

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[1]Este texto é produto de uma discussão que estamos realizando no seminário temático Educação e Movimentos Sociais, ministrado pelos professores Eliane Dayse e Ribamar Furtado, cujos ensinamentos e debate foram decisivos na ampliação do interesse desta doutoranda em desenvolver e aprofundar seus conhecimentos no campo dos movimentos sociais.
[2]Doutoranda do programa de pós-graduação em educação brasileira da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Ceará (FACED-UFC).  
[3] Estamos a indicar neste ponto que os movimentos sociais podem constituir espaços de conformação de uma nova sociabilidade, no sentido de que são efetivamente potenciais de transformação da sociedade, na busca de uma sociabilidade outra para além da produção capitalista, orientada para a satisfação não só de interesses individuais, mas para a satisfação das necessidades coletivas e para a realização das potencialidade humanas. Segundo ILSE SCHERER-WARREN (1996, p.71), referindo-se aos movimentos sociais no campo, “sem sociabilidade política não há MS nem projeto coletivo em torno do que lutar. A participação direta das bases camponesas em grupos de reflexão e em assembléias deliberativas, conforme tem sido estimulado, sobretudo, pelo trabalho de mediação das pastorais, dos agentes das Igrejas progressistas e dos sindicatos “combativos”, contribui para o desenvolvimento de uma nova sociabilidade política
[4] Neste sentido, podemos observar as permanentes tentativas de recolocar e condicionar os Movimentos dos Trabalhadores Rurais no Brasil aos desígnios do projeto de reforma agrária oficial, o que significaria imprimir ao movimento uma feição nitidamente propositiva, ou seja, de suas práticas e seus objetivos se manterem nos estritos limites das relações de produção capitalistas. Enquanto os métodos de financiamento e produção dos acampamentos rurais não se chocam com os interesses dos grandes proprietários e se condicionam às relações de mercado, nenhuma objeção encontra na institucionalidade e até são constantemente incentivados. Na medida em que entram em confronto aberto com direito de propriedade, o que se dá através das ocupações, ultrapassa-se os limites da aceitabilidade oficial, tendo o Estado que utiliza o aparelho de repressão policial para desmobilizar e desarticular os movimentos sociais.   
[5] Antunes refere-se ao desenvolvimento de universalidade do ser – generidade,  como consciência auto-emancipadora, do seu ser para si mesmo, que se reconhece no outro e busca a omnilateralidade.
[6] Na vIsão de ANTUNES (2001, P. 27), “expansionista, desde seu microcosmo até sua conformação mais totalizante, mundializado, dada a expansão e abrangência do mercado global, destrutivo e, no limite, incontrolável, o sistema de metabolismo social do capital vem assumindo cada vez mais uma estruturação crítica profunda. Sua continuidade, vigência e expansão não podem mais ocorrer sem revelar uma crescente tendência de crise estrutural que atinge a totalidade de seu mecanismo. Ao contrário dos ciclos de expansão alternados com crises, presencia de um depressed continuum que, diferentemente de um desenvolvimento auto-sustentado, exibe as características de uma crise cumulativa endêmica, mais ou menos uma crise permanente e crônica, com uma perspectiva de uma profunda crise estrutural. Por isso é crescente , no interior dos países capitalistas avançados, o desenvolvimento de mecanismos de “administração das crises”, como parte especial da ação do capital e do Estado visando deslocar e transferir as suas maiores contradições atuais. 
[7] Conforme o entendimento de RIBEIRO (1995, p. 31), os docentes são uma categoria “dominada que, através de sua prática no interior da sociedade civil, apesar e na repressão da sociedade política, vai exercendo uma direção pela criação de novos organismos de representação e expressão e pela conquista e transformação de antigos organismos que passam, em conjunto, a viabilizar a criação e a difusão de uma concepção de mundo segundo os seus interesses, bem como a efetivação dessa concepção num novo tipo de sociedade. Prática esta que não só prepara a conquista da sociedade política como também a permanência de seus representantes nesse nível”.