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terça-feira, 5 de abril de 2011

CELSO ANTUNES-Competências do Ensino Médio

Competências do Ensino Médio
  • Por favor, professor, qual a mais importante competência a desenvolver em alunos do Ensino Médio, para que com mais facilidade aprendam e mais sucesso mostrem nos exames vestibulares?

  • Por favor, professor, qual músculo mais importante desenvolver para que meu filho se transforme em um excelente jogador de futebol e possa, no futuro, ganhar o que ganha hoje um dos Ronaldos?

Embora aparentemente diferentes, as duas perguntas possuem algo em comum: a impossibilidade de uma resposta. Realmente é tão absurdo falar-se em uma competência a desenvolver, quanto acreditar-se que um único músculo possa ajudar a prática deste ou daquele esporte e, pior ainda, garantir a integridade do sucesso. O mais coerente é pensar em quais competências desenvolver e ainda assim acreditar que através de muito esforço e treino essas competências levam o aluno a aprender melhor, fato que absolutamente não significa que o tornará capaz de driblar os imensos labirintos que o farão atravessar as estreitas portas dos vestibulares mais concorridos. O desenvolvimento desse elenco de competências não representa segredo deste ou daquele professor, antes se insere nos próprios documentos que analisam os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio e estão claramente enunciadas nos Documentos Introdutórios dos Exames Nacionais do Ensino Médio. Em síntese, esses documentos enfatizam:

1º         As competências que se necessita estimular devem ser vistas como modalidades estruturais das Inteligências e, portanto, um conjunto de ações e operações que  devem ser usadas para estabelecer relações múltiplas e resolver problemas. Desde que devidamente adquiridas, geram habilidades (saber fazer) e, portanto, pensar em competência significa explorar a faculdade de mobilizar diferentes recursos cognitivos para com eficiência e pertinência enfrentar e solucionar desafios. Em síntese, “competência” significa compreender uma pergunta e mobilizar os elementos estruturais que se tem na cabeça para encontrar uma resposta eficiente.

2º             Compreendendo-se com clareza o que efetivamente é uma competência, chega-se ao elenco das que são as mais importantes, ainda que não exclusivas. Entre estas, cabe destacar a capacidade de abstração que se desenvolve no aluno e que se conquista, paradoxalmente, “tirando-o” dos seus pensamentos e levando-o a “pensar no que antes nunca pensou” – que é o tema que se trabalha – para logo depois “trazê-lo de volta” associando o que descobriu com o que de novo pensou com o seu mundo, seu entorno, seus conhecimentos. Com esta competência o aluno não aprende como quem apenas veste uma camisa, mas tal como a que a transforma na sua segunda pele, contextualizando-a a suas emoções e aos encantos de sua vida e sua realidade circunstancial. Simultaneamente à essa competência, é importante estimular a capacidade desse aluno em assumir um pensamento sistêmico não mais percebendo o que aprendeu como “ algo solto” na memória mas como parte integrante de um todo. Conquistar essa maneira de pensar é jamais  confundir capítulo com novela ou degrau com escada,  mas como uma das partes da mesma que assim insere esse saber em outros mais amplos que, por sua vez, em outros ainda mais amplos mais intensamente o insere.

3º         Outras duas importantes competências a estimular, ainda diante do mesmo tema ou elemento do aprender, são uma visão criativa e uma ação curiosa. A criatividade se manifesta pelas associações indispensáveis que se fará entre o objeto do saber e a vida que se vive – se a cena da aula de história se associa ao lance futebolístico inesquecível, essa cena melhor será preservada na memória episódica – e essa criatividade não se manifesta caso o professor não levante perguntas intrigantes, desafios curiosos, propostas inusitadas que por alcançar a surpresa levará o aluno a conquista de uma resposta criativa.

4º         Essa resposta, entretanto, jamais deverá ser solução única, elemento solto que divaga pela memória explícita e sim uma resposta com diferentes alternativas e caminhos de diferentes aplicações. Essa busca de alternativas diferentes não se conquista senão pelo treino e não existe espaço mais fértil para o mesmo que a sala de aula. Até que ponto a solução que se encontrou na matemática é válida para a geografia? Possa usar em história os passos que, em língua portuguesa, aprendi na análise sintática? Quando, através do insubstituível exercício do treino puder o aluno caminhar por essas múltiplas alternativas para uma mesma resposta, deverá aprender a trabalhar em equipe e dessa forma compartilhar saber nem como quem “ensina” o colega ou como que dele “aprende” mas como quem divide experiências e, literalmente, troca idéias. Ora, o que é uma “troca” de idéias sem o espírito de um verdadeiro intercâmbio que enriquece todos envolvidos na busca dos mesmos caminhos. Trabalhar em equipe, entretanto, não simboliza competência que nasce da simples junção de pessoas, mas e ainda uma vez, do treino. Treino em que se aprende a aceitar criticas e a fazê-las, onde se exercita com o outro o sentido de uma verdadeira cooperação. Trabalhar em equipe – desculpe a sensualidade da imagem – é mais ou menos como plenamente usufruir o sexo; sem autêntica parceria, igualada pela intensidade da troca, essa relação transforma-se em masturbação à dois.

5º         Ao se alcançar essas competências chega o momento de se inventariar outras e entre estas é essencial o aprimoramento da comunicação que se faz, buscando as melhores palavras para com mais vigor se estimular idéias e o refazer das frases prontas, na busca de melhor fazê-las. Jamais um texto pode ser tão primoroso que não possa se beneficiar de uma revisão cuidadosa que não apenas o corrija, mas que possa imprimi-lo de maior beleza, mais cuidadosa precisão. Isto alcançado, chega-se finalmente ao desenvolvimento da competência de se buscar novos conhecimentos, sem jamais deixar de se exercitar diferentes habilidades – comparar, analisar, classificar, sintetizar, conceituar, expressar, descrever, contextualizar e outras mais – que, em última análise, nada mais é que  ensinar o aluno a pensar.

É evidente que nesta síntese não se buscou objetivos explícitos e conhecimentos específicos de cada disciplina que, por sua vez, também tem outras competências a sugerir. Mas, quando esses caminhos se trazem para a aula, atribua-se o nome que se queira atribuir, em verdade o professor está verdadeiramente ensinando, pois tem em mente um aluno que essencialmente nada mais pede que o direito de aprender. Assim agir não significa apenas pensar no que faz, mas inclui também pensar para quem se faz.

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